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A mostrar mensagens de março, 2017

Desde o Chão

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Estremece as vezes desde o chão , por se ter uma navalha na algibeira ; por o sexo ser sumptuoso ; por causa dos buracos luminosos na camisa , tem - se medo do poder da nudez , a finura da carne uma unha no coração : o modo de fazer rodar o quarto ; o baruulho que se ouve nos canos onde a água vive - tudo sob a ameaça de uma riqueza brusca em nòs , quando um raio se desencadeia pela coluna vertebral abaixo , o golpe entre as madeixas frias , toca - se na cama : e nunca mais se dorme , toca - se onde os pulmões se cosem à boca para gritar , às vezes tem - se o dom de fincar os pès na paisagem em massa , um feixe desfeixa - se no avesso - estala fora , com que vozes se encontra a gente Quando o pavor se faz música ordem exercício nominal ? Arranca - nos a tudo como se arranca a unha a um dedo ; ou o dedo à mão ao gesto amassando a terra como se penteia , pente que reabre a chegada e alastra , que aprofunda como o sangue aprofunda a claridade pequ

QUERO

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Quero o erro gramatical que refaça na metade luminosa o poema do mundo , e que Deus mantenha oculto na metade nocturna o erro do erro : alta voltagem de ouro , bafo no rosto .

FOLHA LIMPA

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Magoam - me cansam - me os poetas intocáveis , os depuradores de palavras , detentores  de enigmas que apenas consideram poesia o ilegível , o indelével , o inatingível , segredo confinado pelo seu deus privado e precioso a visionários , iluminados e abençoados homens aquém dos outros ou fiéis aos seus no dia em que alguém  me convença de que isso è verdade - espero não estar vivo - farei o mesmo que faria Einstein  à sua  fórmula antes  de saber do seu destino ; engulo o poema e abdico da poesia o ser humano simples não è incompatível com o ser  humano profundo , não somos descendentes de um mistério nem lhe vamos descobrir o conteúdo , todos os dias um livro grita e pela frente há imenso caminho , toda gente quer ser feliz nesta cratera , o último a sair deixe  a porta aberta

Libertação de Paris

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na morte de Henri - Cartier - Bresson soou a trompete no coração , ouviu - se um tiro sem disparo , luz e sombra estavam no sitio certo , o povo anónimo pegou pelos cornos os traidores à sua cidade , comeu o que lhe restava de vísceras , contra um invasor desesperado um sò homem soltou o diafragma no momento exacto , uma lente estimada e um Zoom na consciência , atè a pedra ardeu em certas praças , mulheres e crianças ficaram estáticas , estátuas de guerra mais velhas sorriram ùteis , conquistou -se a liberdade e a honra imortalizada numa fotografia a preto e branco e revelada pelas lágrimas , a vida e arte deram as mãos novas , cerraram as últimas forças , dormiram juntas , ainda hoje as fontes jorram sangue e sèmen e às vezes a plebe sorve - as .

Lapide

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ainda não me lembro ou já me lembro não há memória  sò há história nenhuma parábola è definida enquanto houver um fio imperceptível que se puxa solta ao carrinho de linhas não hà metáforas enquanto as estrelas às mãos abertas e não se apanham lendas com armas  borboletas pelas asas não há bulas fantasmas epitáfio valas mármores matrizes cruzes e datas enquanto as palavras forem crianças arcos os homens e as mulheres flechas .